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sexta-feira, 21 de junho de 2013
A Fifa pode tirar a Copa do Brasil. Estados Unidos virariam plano B…
Manifestantes conseguiram. Reunião emergencial discute não só a Copa das Confederações, já que faltam só nove dias para acabar. Mas o próprio Mundial de 2014. A Fifa pode tirar a Copa do Brasil. Estados Unidos virariam plano B…
Salvador...
O medo de Dilma Rousseff, do governo brasileiro é enorme.
Na reunião emergencial que acontece em Brasília, o tema é futebol.
E vai muito além da Copa das Confederações.
Mas a própria Copa do Mundo de 2014.
Para terminar o torneio laboratório, Dilma e os governadores dão garantia.
Vão reforçar ainda mais a segurança nos hotéis onde estão as delegações.
E principalmente os membros da Fifa.
Assim como seus trajetos pelo País serão monitorados.
Restam exatos nove dias para a competição acabar.
São apenas oito seleções envolvidas.
Quatro já irão embora depois deste final de semana, eliminadas.
Japão, México, Taiti e Nigéria.
Ficarão Brasil, Espanha, Itália e Uruguai.
Só quatro equipes por mais uma semana.
O grande problema é mesmo a Copa do Mundo.
A rejeição só cresce à competição de R$ 30 bilhões.
Envolve 32 seleções.
A proteção de 32 delegações espalhadas pelo país.
Torcidas do mundo todo.
12 nova arenas caríssimas, com 80% de dinheiro público.
Elefantes brancos como Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília.
Onde o futebol competitivo, de elite não existe.
Há a garantia de que os estádios ficarão vazios durante o ano todo.
Pelo menos R$ 2 milhões irão para o lixo por ano só na manutenção do quarteto.
As obras de mobilidade social não saíram do papel.
As cidades sedes de jogos decretam feriados para os torcedores chegarem nos estádios.
Mesmo assim é um transtorno.
Se perde pelo menos duas horas.
Isso sem os manifestantes atrapalhando.
Os aeroportos não foram modernizados, como prometido.
Não haverá legado algum.
A não ser estádios superfaturados.
E um gasto desnecessário de R$ 30 bilhões.
O cenário só tende a piorar nos próximos 12 meses.
Parte da população percebeu o desperdício.
A prioridade dos gastos deveria ser para a saúde, educação, segurança.
A Fifa quer do governo brasileiro a garantia sobre a Copa do Mundo.
É o principal evento da entidade.
Mais de 150 países acompanham a competição.
E todos pagando caro pela transmissão.
Patrocinadores bilionários estão envolvidos.
Não há a felicidade prometida.
A rejeição ao mundial já afeta as marcas.
O Fuleco, triste tatu símbolo do mundial, é atacado pelo país.
Passaram a ser destruídos em uma mensagem clara da revolta com o Mundial.
Os R$ 30 bilhões gastos pelo Brasil são ínfimos perto de todo envolvimento.
Um ano é prazo mais do que suficiente para um plano emergencial.
Para que um país rico assuma a competição.
Como os sempre generosos Estados Unidos.
A possibilidade de ter um plano B virou obsessão para a Fifa.
Os países vivem grande convulsão social.
Isso foi levado em conta na escolha das três sedes das próximas Copas.
Brasil, Rússia e Catar deveriam ser opções seguras.
De acordo com jornalistas ingleses, houve três critérios na seleção.
Terem governos seguros, estáveis.
Imprensa fraca, omissa.
E, principalmente, populações dóceis como carneiros.
Quando Lula se envolveu na questão tinha outros objetivos.
Era 2007.
Ele tinha a certeza de que se conseguisse o Mundial o efeito colateral seria fantástico.
A Copa do Mundo cai em anos eleitorais.
Depois de dois mandatos no cargo, ganhar a Copa garantiria Dilma em 2010.
Como garantiu.
E também em 2014.
Ou seja, mais oito anos de poder do PT.
Seriam 16 anos de domínio.
Subestimou a visão da população.
Nunca imaginou a revolta diante do custo absurdo de uma competição de 30 dias.
Tanto que sumiu do noticiário de propósito.
Não sabe como se colocar em relação à revolta popular.
A Fifa não quer saber.
Aqui em Salvador as pedras dos manifestantes já acertam seus carros.
Assim como houve ontem uma tentativa de invasão ao hotel onde seus membros estão.
Joseph Blatter passou pelo maior vexame como presidente da entidade em Brasília.
Nunca teve a abertura de uma competição vaiada pela torcida.
O vexame que passou ao lado de Dilma pode ser esquecido.
Mas não os bilhões que a Fifa já contabilizava como lucro pela Copa.
A quantia divulgada seria de R$ 5 bilhões.
Mas há a certeza da imprensa internacional que o ganho será bem maior.
As delegações que estão na Copa das Confederações estão tensas.
O Brasil foi vendido como um país de gente pacífica, dócil.
Com mulheres bonitas, alegres, sempre dispostas a festas.
A maior preocupação com a família dos jogadores era o ciúme.
Não poderiam imaginar encontrar manifestantes raivosos.
O futebol foi associado à corrupção, ao descaso do governo com a população.
Os jogadores acompanham assustados os protestos.
A população invadindo as ruas e os governantes sem saber o que fazer.
Não bastasse isso, vexames tradicionais.
Como jogadores da Espanha terem seu dinheiro roubado em hotéis brasileiros.
Repórter inglês que cobriu a reabertura do Maracanã escapou de assalto a faca.
Equipe brasileira que trabalha para o Japão teve suas câmeras furtadas em Porto Alegre.
Fotógrafo japonês viu seu material ser roubado em pleno gramado de Brasília.
Susana Werner anunciando ao mundo pelo twitter que foi roubada.
Com arma apontada para sua cabeça em Fortaleza.
Susana é esposa do goleiro titular da Seleção Brasileira, Júlio César.
Os jogadores de fora estão pedindo para seus familiares irem embora.
Antes mesmo do torneio acabar.
De acordo com jornalistas espanhóis é o que acontece com Shakira.
Mal ela desembarcou com o filho de Piqué, Milan, no Rio.
E já ouviu que é melhor irem embora por causa dos conflitos.
No seu jato particular que os trouxe.
Índios foram expulsos para a construção do novo Maracanã.
E colocados em abrigos para mendigos.
Mais um escândalo internacional.
Os roubos se acumulam nos estádios.
Assim como a repressão violenta da polícia aos manifestantes.
A violência já havia espantado os turistas da Copa das Confederações.
Menos de 3% compraram ingressos para os jogos.
Mais do que um fracasso, um aviso.
O Brasil passou a ser país perigoso, não recomendado.
As autoridades brasileiras não enxergaram o óbvio.
E se prepararam para receber os turistas que não apareceram.
Vários taxistas desonestos continuam trabalhando nas sedes da Copa das Confederações.
Principalmente nos aeroportos.
Os hotéis aumentaram absurdamente o preço de seus quartos.
Os explorados são os próprios torcedores brasileiros que acompanham o torneio.
O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, jurou que fecharia os hotéis aproveitadores.
Bravata que não levou a nada.
Eles continuam fazendo a festa, sangrando os nativos.
Os estrangeiros não vieram.
Nos estádios, seguranças imploram para jornalistas.
Pedem que não saiam sozinhos para tentar tomar táxi.
Os assaltos são comuns perto das arenas.
A situação é vergonhosa.
Foi assim em Brasília, Fortaleza e em Salvador.
O medo domina a Copa das Confederações.
A repressão policial é cada vez mais violenta.
Mistura raiva e despreparo.
Com tiros de borracha dados a esmo.
Spray de pimenta e bombas de efeito moral à vontade.
Mesmo assim é possível levar a Copa das Confederações até o final.
Cancelá-la traria a certeza de desistir do Mundial.
O governo quer mantê-la de qualquer maneira.
Não há como garantir a Copa.
O interessa à Fifa é o acordo assinado com o governo brasileiro.
O comprometimento com o Mundial.
Há uma multa caríssima se o Brasil desistir.
Tudo está assinado desde 2007, pelo então presidente Lula.
Mas ele e Blatter não previam os manifestos.
Há a possibilidade de que os dois lados optem pela desistência.
A Fifa também não vai querer organizar uma competição rejeitada pela população.
Foi o caso da Colômbia em 1982.
O governo se negou a construir 12 novos estádios exigidos pela entidade.
Os da primeira fase deveriam ter 40 mil pessoas.
Os da segunda fase, 60 mil
E os da decisão da competição, 80 mil.
Os colombianos alegaram não ter condição financeira.
A Fifa alegou falta de segurança.
E a competição voltou foi para o México, em 1986.
A decisão da Colômbia aconteceu quatro anos antes do Mundial.
Pela avaliação prévia de pessoas ligadas à Fifa, só há uma opção.
Que possa abrigar a Copa em apenas 12 meses.
Seria os Estados Unidos.
Com estádios modernos e sem grandes problemas de mobilidade social.
Há a crise financeira.
Ela poderia ser até um atrativo, já que a competição levaria dinheiro.
Para Dilma o fracasso seria imenso.
Com reflexo contrário à eleição, sonhado por Lula.
Mas a Fifa não está brincando.
Joseph Blatter diante de tanta pressão foi para a Turquia.
Começa hoje o Mundial sub-20.
Ele não quis ficar para acompanhar a Copa das Confederações.
Mas sabe tudo o que está acontecendo.
As ordens são claras, que não tiver condições se cancele.
Não só o torneio como o Mundial do Brasil.
Os manifestantes estão conseguindo ir além do que sonhavam.
Não é só a Copa das Confederações que está em risco.
Mas o próprio Mundial por aqui.
Como pelo rodízio deve ser mantida na América...
Os Estados Unidos poderia surgir como plano B.
Sim, a Copa do Mundo de 2014.
Aquela que Lula e Ricardo Teixeira trouxeram vibrando para o Brasil.
Teixeira sonhava que, com ela, comandaria a Fifa.
Acabou exilado em Boca Raton.
E o futuro de Lula, Dilma depende do futebol.
Não como sonhava o ex-presidente.
Os protestos devem ser ainda maiores até o final da Copa das Confederações.
O que será péssimo para o governo federal.
E piorar sua relação com a Fifa, que está por um fio.
Foi muito bem escolhido o lema dos manifestantes.
"O gigante acordou..."
(Como havia sido publicado...
A Fifa confirma a continuação da Copa das Confederações.
Só faltam nove dias e poucas seleções para serem protegidas.
Desmentiu o que inúmeros jornalistas comentam pelas sedes.
Que times desejam desistir da competição.
Mas a Copa do Mundo no Brasil continuará sendo objeto de estudo.
Tudo dependerá do arrefecimento dos protestos ou não.
A situação não é nada simples.
Muito pelo contrário.
Os manifestantes estão conseguindo mais que imaginam...)
Publicado em 21/06/2013 às 11h21
quarta-feira, 19 de junho de 2013
terça-feira, 18 de junho de 2013
sábado, 15 de junho de 2013
Por que(m) os jovens protestam
Por que(m) os jovens protestam
Por Mércio Gomes, especial para o Yahoo! Brasil | Yahoo! Notícias
É evidente que não é (essencialmente) por causa do aumento da passagem de ônibus, nem tampouco contra os pais ou contra as injustiças do país.
Ontem, dia 13 de junho, participei, um dentre algumas dezenas de coroas, da passeata que saiu do Largo da Candelária até a Cinelândia e de lá até a ALERJ e depois pela Presidente Vargas até a Central do Brasil. Participei acompanhando, batendo palmas e observando, em zigue-zague, os milhares de jovens que, auto-conscientes de suas vidas e de suas paixões, marchavam em alegre, mas contida, manifestação a propósito do aumento das passagens de ônibus. No fim da passeata encontrei meu filho de 18 anos, junto com outros colegas, todos em suas primeiras passeatas, já correndo das bombas e balas de borracha da policia. Um deles foi atingido quase no olho, tal qual a jornalista de São Paulo, soube depois.
Em certo momento divaguei que estava na passeata a favor das Diretas Já, em 1984, tal a festiva e distencionada atitude dos manifestantes. Melhor ainda: não havia um político comandando as massas, uma esperança ilusória de mudanças políticas, uma bandeira de fé. Os pequenos partidos políticos de retórica esquerdista estavam por lá, com suas bandeiras e suas tentativas de controlar, mas eram poucos militantes e não comandavam a massa. Todos pareciam saber que estavam tão somente ensaiando para algo que ainda não sabem o quê é e em quê vai dar, mas que almejam alcançar.
Quase todo mundo tinha menos de 30 anos, estudantes universitários e colegiais. Uns engravatados e umas vestidas de executivas desceram dos seus escritórios para acompanhar, meio embevecidos, alguns um tanto emburrados. Não havia corre-corre, nem empurrões, ninguém perdeu um chinelo no meio da multidão, não se bateu carteira, não rolava bebida, apenas um leve cheiro de erva aqui e ali, quase nenhum momento de azaração. Dois casais se beijavam na boca, sendo um de mulheres. Um único cabeção estorou em frente a um banco e alguns soltavam fraquíssimos foguetes de São João e até as infantis estrelinhas. Já se aproximando da Cinelândia, vi alguém embebendo um chumaço com algum liquido, mas logo constatei que estava tão-somente molhando sua máscara cirúrgica com vinagre. Dizem que para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo.

Casal se beija durante protesto no RJ. (Foto: Katja Schilirò)
Caminhavam em grupos de rapazes e moças, certamente colegas, que se abraçavam com outros grupos, de outros colégios ou faculdades, ou conhecidos de redes sociais. Sim, as redes sociais funcionaram no chamamento à passeata.
Tudo parecia improvisado. Os cartazes empunhados por moças e rapazes, alguns com máscaras do farsante, eram de papelão com dizeres em lápis coloridos que mal se enxergava a dez passos de distância. Serviam para os amigos e os fotógrafos documentarem suas ousadias.
Um carro de som se arrastava no meio da multidão puxando as rimas e palavras de ordem. “Se a passagem não baixar, o Rio vai parar”, “Ô, ô, ô, Cabral é ditador”, “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. E o mais esperançoso: “Ô, ô, ô ... o povo acordou”. Em algum momento uma equipe da rede Globo foi encurralada na portaria da Caixa Econômica, e a Globo foi associada, numa rima engraçada, ao seu antigo apoio à ditadura.
Não havia palhaçada, gaiatices, nem palhaços, nem figuras esdrúxulas, como nas passeatas políticas da década de 1980. Nenhuma brincadeira de mau gosto, tampouco. Senti falta das figuras populares, das vestimentas extravagantes, do protesto escrachado; apenas as carrocinhas de cachorro-quente e refrigerante demonstravam que o povão estava presente, a trabalho.
Milhares de pessoas se reuniram nas ruas do RJ durante manifestação. (Foto: Katja Schilirò)
Ao chegar na Cinelândia percebeu-se que a multidão estava compacta e era expressiva, quem sabe umas dez mil pessoas. E não se soube mais o quê fazer, como concluir o acontecimento. Ninguém para fazer um discurso de glória pela manifestação pacífica e orgulhosa, para fazer novos encaminhamentos, para chamar a novos propósitos. Faltou o gozo. O carro de som não podia subir nas calçadas da Praça da Câmara Municipal e virou pela Evaristo da Veiga rumo à ALERJ. Lá deu-se o momento de espetáculo, mas não da glória da passeata, ao subir as escadeiras do Palácio Tiradentes e se agarrar à estátua que adorna a Assembleia Legislativa. Mas nenhuma jovem ousou desfazer-se da blusa e do alto do pedestal empunhar a bandeira da liberdade. Pudor e acanhamento, mas falta muito ainda para a glória ressurgir.
Até aí a policia olhava de uma distância regulamentar, aceitável para todos, que não denotava provocação. Os manifestantes apenas registravam sua presença em fotos, até deles próprios de costas para o símbolo da repressão. Porém, ao se dirigir pela 1º de Maio e dobrar para a Getúlio Vargas, começou a fuleragem. Sacos de lixo foram chutados e rasgados e um grupo de umas 30 pessoas saiu quebrando algumas vitrines, grafitando muros e destroçando as paradas de ônibus. A polícia se eriçou e a porradaria começou.

Jovens se reúnem nas ruas cariocas durante protesto. (Foto:Katja Schilirò)
Foi quando a TV Globo interrompeu sua malsinada novela de fofocas sobre quem é pai de quem, para mostrar as cenas de vandalismo da multidão e demonstrar sua falta de compostura. E provar que tudo não passa de jovens descomprometidos com a realidade do país, sem razão e sem motivos.
Eis o busílis da questão. Há quem ache que tudo não passa de desventuras fúteis o que os jovens estão fazendo. Os noticiários televisivos nos levam a crer que é isso mesmo. Mas uma pesquisa da DataFolha de hoje mostra que mais da metade da população está a favor das manifestações dos jovens indo às ruas. Por que será?
Tem algo no ar que não pode ser desmerecido por comentários derrisórios de jornalistas de plantão e análises superficiais de sociólogos acadêmicos. Uns acham que é ato inconsequente de jovens mimados, falta do quê fazer; outras, que é gente incapacitada para o diálogo. Por que uma comissão de jovens não dialoga com o prefeito? Aos que os jovens desaforadamente respondem: “Como pode haver um diálogo entre o c... e a p...?”
Não se dialoga com a máquina da modernidade líquida, como poderia dizer Zygmunt Bauman. O diálogo sempre é falso e se dá em condições de poder do mais forte e com propósitos farsantes. A máscara do farsante cai bem a propósito da ironia dos jovens.
O Brasil – e alguém diria, o mundo – parece ter virado uma farsa cheia de mentiras, conversa mole, enganações e espetáculos. O derramamento de dinheiro para a Copa, para as Olimpíadas, se contrasta com as ruas esburacadas, com os estádios mal feitos, com as leis ridiculamente draconianas, com as sempiternas filas de hospitais, com a educação às aparências sem sentido, com o trânsito ruim demais, os trens cheios e demorados, com os ônibus – sim, os ônibus e as passagens – para deixar todo mundo revoltado, doente de frustração e de não saber o quê fazer mais. Quase todo mundo já encheu o saco de tudo isso, mas quase ninguém sabe como dizer, agir e mudar. A indiferença prevalece como auto-defesa: “O que se pode fazer, vai tudo continuar do mesmo jeito”, foi o que ouvi de um homem que olhava o acontecimento.
Esta é uma juventude do falso bem-estar brasileiro. Nasceu bem, cresceu sem inflação galopante, sem salários escorchantes, num tempo em que o Brasil foi aos poucos paralisando. Cada um por si, que se dá um jeito. O que está aí é o que é.
Mas, por ironia à modernidade líquida, é uma juventude que quer ao menos cuidar de si. Manifesta-se pelo cuidado com amigos. Os grupos se formam naturalmente, por afinidade ou proximidade, e gostam de estar próximos. Cada grupo cuida de si, mas a inveja ou rivalidade grupal, que já foram tão naturais em outros tempos, não prevalece. Para onde derramar esse amor, ou talvez, carinho, se não há como organizar o mundo de outro modo?
Os garotos das passeatas são condenados ipso facto por serem de classe média. Mas a classe média aí está e crescendo, segundo o governo. Aliás, confundindo classe média com consumo de bens, todos querem ser classe média. Em outros tempos os bem-pensantes diziam que a classe média é quem puxa o povão. Bem que esses garotos gostariam de puxá-lo para a ribalta da luta. Mas o povão não vem porque nada lhes é confiável, ainda, muito menos para protestos contra o preço de passagens e promessas de boa educação para todos.
Os que já passaram do meio caminho da vida também estão frustrados e reclamam pelos cantos como que em desafogo. Perderam a vontade de transformar suas vidas, muito menos as injustiças do país Persistem na farsa do “deixa como estar para ver como é que fica”.
Os jovens haviam se acostumado com isso, mas procuram um meio para sair. Defendem índios e quilombolas, o vetusto Museu do Índio, qualquer pequena causa que lhes traga de volta a identidade de ser no mundo. Não sabem para onde vão, mas quem o sabe?
Quando é a próxima passeata?
Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/por-que-m--os-jovens-protestam-181040963.html
Por Mércio Gomes, especial para o Yahoo! Brasil | Yahoo! Notícias
É evidente que não é (essencialmente) por causa do aumento da passagem de ônibus, nem tampouco contra os pais ou contra as injustiças do país.
Ontem, dia 13 de junho, participei, um dentre algumas dezenas de coroas, da passeata que saiu do Largo da Candelária até a Cinelândia e de lá até a ALERJ e depois pela Presidente Vargas até a Central do Brasil. Participei acompanhando, batendo palmas e observando, em zigue-zague, os milhares de jovens que, auto-conscientes de suas vidas e de suas paixões, marchavam em alegre, mas contida, manifestação a propósito do aumento das passagens de ônibus. No fim da passeata encontrei meu filho de 18 anos, junto com outros colegas, todos em suas primeiras passeatas, já correndo das bombas e balas de borracha da policia. Um deles foi atingido quase no olho, tal qual a jornalista de São Paulo, soube depois.
Em certo momento divaguei que estava na passeata a favor das Diretas Já, em 1984, tal a festiva e distencionada atitude dos manifestantes. Melhor ainda: não havia um político comandando as massas, uma esperança ilusória de mudanças políticas, uma bandeira de fé. Os pequenos partidos políticos de retórica esquerdista estavam por lá, com suas bandeiras e suas tentativas de controlar, mas eram poucos militantes e não comandavam a massa. Todos pareciam saber que estavam tão somente ensaiando para algo que ainda não sabem o quê é e em quê vai dar, mas que almejam alcançar.
Quase todo mundo tinha menos de 30 anos, estudantes universitários e colegiais. Uns engravatados e umas vestidas de executivas desceram dos seus escritórios para acompanhar, meio embevecidos, alguns um tanto emburrados. Não havia corre-corre, nem empurrões, ninguém perdeu um chinelo no meio da multidão, não se bateu carteira, não rolava bebida, apenas um leve cheiro de erva aqui e ali, quase nenhum momento de azaração. Dois casais se beijavam na boca, sendo um de mulheres. Um único cabeção estorou em frente a um banco e alguns soltavam fraquíssimos foguetes de São João e até as infantis estrelinhas. Já se aproximando da Cinelândia, vi alguém embebendo um chumaço com algum liquido, mas logo constatei que estava tão-somente molhando sua máscara cirúrgica com vinagre. Dizem que para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo.
Casal se beija durante protesto no RJ. (Foto: Katja Schilirò)
Caminhavam em grupos de rapazes e moças, certamente colegas, que se abraçavam com outros grupos, de outros colégios ou faculdades, ou conhecidos de redes sociais. Sim, as redes sociais funcionaram no chamamento à passeata.
Tudo parecia improvisado. Os cartazes empunhados por moças e rapazes, alguns com máscaras do farsante, eram de papelão com dizeres em lápis coloridos que mal se enxergava a dez passos de distância. Serviam para os amigos e os fotógrafos documentarem suas ousadias.
Um carro de som se arrastava no meio da multidão puxando as rimas e palavras de ordem. “Se a passagem não baixar, o Rio vai parar”, “Ô, ô, ô, Cabral é ditador”, “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. E o mais esperançoso: “Ô, ô, ô ... o povo acordou”. Em algum momento uma equipe da rede Globo foi encurralada na portaria da Caixa Econômica, e a Globo foi associada, numa rima engraçada, ao seu antigo apoio à ditadura.
Não havia palhaçada, gaiatices, nem palhaços, nem figuras esdrúxulas, como nas passeatas políticas da década de 1980. Nenhuma brincadeira de mau gosto, tampouco. Senti falta das figuras populares, das vestimentas extravagantes, do protesto escrachado; apenas as carrocinhas de cachorro-quente e refrigerante demonstravam que o povão estava presente, a trabalho.
Milhares de pessoas se reuniram nas ruas do RJ durante manifestação. (Foto: Katja Schilirò)
Ao chegar na Cinelândia percebeu-se que a multidão estava compacta e era expressiva, quem sabe umas dez mil pessoas. E não se soube mais o quê fazer, como concluir o acontecimento. Ninguém para fazer um discurso de glória pela manifestação pacífica e orgulhosa, para fazer novos encaminhamentos, para chamar a novos propósitos. Faltou o gozo. O carro de som não podia subir nas calçadas da Praça da Câmara Municipal e virou pela Evaristo da Veiga rumo à ALERJ. Lá deu-se o momento de espetáculo, mas não da glória da passeata, ao subir as escadeiras do Palácio Tiradentes e se agarrar à estátua que adorna a Assembleia Legislativa. Mas nenhuma jovem ousou desfazer-se da blusa e do alto do pedestal empunhar a bandeira da liberdade. Pudor e acanhamento, mas falta muito ainda para a glória ressurgir.
Até aí a policia olhava de uma distância regulamentar, aceitável para todos, que não denotava provocação. Os manifestantes apenas registravam sua presença em fotos, até deles próprios de costas para o símbolo da repressão. Porém, ao se dirigir pela 1º de Maio e dobrar para a Getúlio Vargas, começou a fuleragem. Sacos de lixo foram chutados e rasgados e um grupo de umas 30 pessoas saiu quebrando algumas vitrines, grafitando muros e destroçando as paradas de ônibus. A polícia se eriçou e a porradaria começou.
Jovens se reúnem nas ruas cariocas durante protesto. (Foto:Katja Schilirò)
Foi quando a TV Globo interrompeu sua malsinada novela de fofocas sobre quem é pai de quem, para mostrar as cenas de vandalismo da multidão e demonstrar sua falta de compostura. E provar que tudo não passa de jovens descomprometidos com a realidade do país, sem razão e sem motivos.
Eis o busílis da questão. Há quem ache que tudo não passa de desventuras fúteis o que os jovens estão fazendo. Os noticiários televisivos nos levam a crer que é isso mesmo. Mas uma pesquisa da DataFolha de hoje mostra que mais da metade da população está a favor das manifestações dos jovens indo às ruas. Por que será?
Tem algo no ar que não pode ser desmerecido por comentários derrisórios de jornalistas de plantão e análises superficiais de sociólogos acadêmicos. Uns acham que é ato inconsequente de jovens mimados, falta do quê fazer; outras, que é gente incapacitada para o diálogo. Por que uma comissão de jovens não dialoga com o prefeito? Aos que os jovens desaforadamente respondem: “Como pode haver um diálogo entre o c... e a p...?”
Não se dialoga com a máquina da modernidade líquida, como poderia dizer Zygmunt Bauman. O diálogo sempre é falso e se dá em condições de poder do mais forte e com propósitos farsantes. A máscara do farsante cai bem a propósito da ironia dos jovens.
O Brasil – e alguém diria, o mundo – parece ter virado uma farsa cheia de mentiras, conversa mole, enganações e espetáculos. O derramamento de dinheiro para a Copa, para as Olimpíadas, se contrasta com as ruas esburacadas, com os estádios mal feitos, com as leis ridiculamente draconianas, com as sempiternas filas de hospitais, com a educação às aparências sem sentido, com o trânsito ruim demais, os trens cheios e demorados, com os ônibus – sim, os ônibus e as passagens – para deixar todo mundo revoltado, doente de frustração e de não saber o quê fazer mais. Quase todo mundo já encheu o saco de tudo isso, mas quase ninguém sabe como dizer, agir e mudar. A indiferença prevalece como auto-defesa: “O que se pode fazer, vai tudo continuar do mesmo jeito”, foi o que ouvi de um homem que olhava o acontecimento.
Esta é uma juventude do falso bem-estar brasileiro. Nasceu bem, cresceu sem inflação galopante, sem salários escorchantes, num tempo em que o Brasil foi aos poucos paralisando. Cada um por si, que se dá um jeito. O que está aí é o que é.
Mas, por ironia à modernidade líquida, é uma juventude que quer ao menos cuidar de si. Manifesta-se pelo cuidado com amigos. Os grupos se formam naturalmente, por afinidade ou proximidade, e gostam de estar próximos. Cada grupo cuida de si, mas a inveja ou rivalidade grupal, que já foram tão naturais em outros tempos, não prevalece. Para onde derramar esse amor, ou talvez, carinho, se não há como organizar o mundo de outro modo?
Os garotos das passeatas são condenados ipso facto por serem de classe média. Mas a classe média aí está e crescendo, segundo o governo. Aliás, confundindo classe média com consumo de bens, todos querem ser classe média. Em outros tempos os bem-pensantes diziam que a classe média é quem puxa o povão. Bem que esses garotos gostariam de puxá-lo para a ribalta da luta. Mas o povão não vem porque nada lhes é confiável, ainda, muito menos para protestos contra o preço de passagens e promessas de boa educação para todos.
Os que já passaram do meio caminho da vida também estão frustrados e reclamam pelos cantos como que em desafogo. Perderam a vontade de transformar suas vidas, muito menos as injustiças do país Persistem na farsa do “deixa como estar para ver como é que fica”.
Os jovens haviam se acostumado com isso, mas procuram um meio para sair. Defendem índios e quilombolas, o vetusto Museu do Índio, qualquer pequena causa que lhes traga de volta a identidade de ser no mundo. Não sabem para onde vão, mas quem o sabe?
Quando é a próxima passeata?
Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/por-que-m--os-jovens-protestam-181040963.html
sexta-feira, 14 de junho de 2013
“A HISTÓRIA NA ERA GOOGLE”, CONFERÊNCIA MINISTRADA POR CARLO GINZBURG
Em Porto Alegre, Carlo Ginzburg ministrou uma conferência chamada “A História na Era Google”, no Fronteiras do Pensamento. O historiador italiano, autor de O Queijo e os Vermes e Mitos, Emblemas, Sinais, trata da relação da internet com a história.No vídeo abaixo, há uma espécie de melhores momentos da conferência. Assista ela abaixo:
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Discurso de professora indignada com a educação no Brasil
'Não basta mobilização virtual', diz Amanda Gurgel, que leciona português.
Ela resumiu a realidade do professor pelos números do seu salário: R$ 930.
Amanda Gurgel, professora de português da rede pública do Rio Grande do Norte, virou uma "celebridade" na internet depois que o vídeo com seu discurso na Assembléia Legislativa daquele estado, feito em audiência pública , foi postado na rede. No seu pronunciamento, Amanda resume a situação da vida de um professor de escola pública em três algarismos: nove, três zero. "São os números do meu salário: R$ 930", discursou a professora. A secretária da educação do estado, Betânia Ramalho, se disse solidária à posição da professora. "Que grito de indignação desperte a sociedade por um novo projeto de educação para o país", afirmou a secretária.
O vídeo se multiplicou na web e o nome de Amanda Gurgel surgiu entre os mais citados do Twitter. Em quatro dias, o vídeo já teve mais de 200 mil exibições. A repercussão surpreendeu a professora. Em entrevista ao programa "RN TV", da InterTV, afiliada da Rede Globo, Amanda disse que falou apenas o que vive diariamente em seu trabalho. "Falei de forma esportânea. É o que comentamos diariamente nas escolas. No intevalo é só o que a gente fala do cansaço, da rotina, diário, aula trabalho, ônibus para pegar", afirmou a docente, que já tem perfis fakes nos sites de rede social. "Não participo dessas redes por falta de tempo. Não faço parte do mundo da internet."
A professora espera que este sucesso na internet possa de alguma forma mobilizar a população a exigir melhores condições de trabalho para os professores. "Não basta uma mobilização apenas no espaço virtual. Se todas as pessoas estão se identificando com o que eu falei naquele vídeo elas precisam transformar este sentimento em uma ação coletiva."
No discurso para os deputados estaduais, a professora criticou a política educacional do governo. Ela fez um apelo aos deputados potiguares: "Parem de associar qualidade de educação com professor dentro de sala de aula. Porque não tem condição de ter qualidade em educação com professores tendo de multiplicar o que ganha trabalhando em três horários em sala de aula: R$ 930 de manhã, R$ 930 à tarde e R$ 930 à noite".
Estão me colocando dentro de uma sala de aula com um giz e um quadro para salvar o Brasil? Não posso, não tenho condições. Muito menos com o salário que recebo"
Amanda Gurgel, professora após mostrar o contra-cheque e exaltar seu salário, Amanda declarou: "Só quem está em sala de aula e pega três ônibus por dia para chegar em seu local de trabalho é que pode falar com propriedade sobre isso. Fora isso, qualquer colocação que seja feita aqui é apenas para mascarar uma verdade: em nenhum governo, em nenhum momento a educação foi uma prioridade".
Ela reclamou da forma em que os governos relevam a situação dos professores de escolas públicas e o discurso de que cabe à categoria trabalhar pela melhoria do ensino no país. "Estão me colocando dentro de uma sala de aula com um giz e um quadro para salvar o Brasil? Salas de aulas superlotadas com alunos entrando com carteira na cabeça porque não têm carteiras nas salas. Sou eu a redentora do país? Não posso, não tenho condições. Muito menos com o salário que recebo."
Secretária do RN se diz solidária
Em entrevista ao G1, a secretária de educação do Rio Grande do Norte afirmou que o pronunciamento emocionado de Amanda Gurgel revelou a realidade do professor brasileiro. Betânia Ramalho criticou a falta de uma política consolidada de educação no estado. "Foram dez secretários de educação em oito anos, é a face perversa de política descontinuada", disse a secretária, que é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e está há quatro meses no cargo.
"Nós secretários de estado conversamos com Fernando Haddad (ministro da Educação) no mês passado falando dessas questões que afligem os estados. Precisamos saber como podemos fazer uma revolução na educação pública. Estamos reestruturando a secretaria, investindo na parte pedagógica. Mas temos muitas escolas em situação precária. O problema é da educação pública nacional. Aqui temos escolas que funcionam muito bem e escolas que precisam avançar muito."
Sobre o salário de R$ 930 revelado pela professora Amanda, a secretária disse que é uma luta da categoria que se arrasta há muitos anos. "Podemos dizer que o salário dela está acima do piso nacional para 30 horas, que é de R$ 890. É preciso construir uma carreira docente que coloque professores no mesmo pé de igualdade dos demais profissionais. Mas isto é uma trajetória longa."
Veja o discurso de Amanda Gurgel na Assembléia Legislativa do RN.
terça-feira, 11 de junho de 2013
REVISTA VEJA É CONDENADA POR OFENSA A PROFESSOR DE HISTÓRIA
REVISTA VEJA É CONDENADA POR OFENSA A PROFESSOR DE HISTÓRIA

Merece destaque a decisão da Justiça gaúcha que condenou a Revista Veja, da Editora Abril, e as jornalistas Mônica Weinberg e Camila Pereira a indenizar, por danos morais, no valor de R$ 80 mil, a um professor de História do Colégio Anchieta, situado em Porto Alegre.
O dano moral em liça emergiu da veiculação pela Veja, edição nº 2074, da matéria "Prontos para o Século XIX". Segundo a sentença de 1ª instância, confirmada pelo Tribunal de Justiça em sede de apelação, a reportagem produzida pelas jornalistas descontextualizou e distorceu fatos, expondo aos leitores, de forma irônica, que educadores e instituições de ensino incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos.
A magistrada entendeu que a revista Veja pressupõe equivocadamente que os pais são omissos e não sabem o que os filhos estão aprendendo em sala de aula. Também disse que a matéria agride ao concluir que os professores levam mais a sério a doutrinação esquerdista do que o ensino das matérias em classe.
A sentença, confirmada pelos desembargadores da 10ª Câmara Cível do TJ/RS, ainda identifica que o texto das jornalistas ofendeu a honra do professor ao qualificá-lo, de forma pejorativa, como esquerdista, sem a sua autorização, de modo a extrapolar os limites da liberdade de imprensa.
Fonte:http://www.informacoesemfoco.com/2013/06/revista-veja-e-condenada-por-ofensa.html

Merece destaque a decisão da Justiça gaúcha que condenou a Revista Veja, da Editora Abril, e as jornalistas Mônica Weinberg e Camila Pereira a indenizar, por danos morais, no valor de R$ 80 mil, a um professor de História do Colégio Anchieta, situado em Porto Alegre.
O dano moral em liça emergiu da veiculação pela Veja, edição nº 2074, da matéria "Prontos para o Século XIX". Segundo a sentença de 1ª instância, confirmada pelo Tribunal de Justiça em sede de apelação, a reportagem produzida pelas jornalistas descontextualizou e distorceu fatos, expondo aos leitores, de forma irônica, que educadores e instituições de ensino incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos.
A magistrada entendeu que a revista Veja pressupõe equivocadamente que os pais são omissos e não sabem o que os filhos estão aprendendo em sala de aula. Também disse que a matéria agride ao concluir que os professores levam mais a sério a doutrinação esquerdista do que o ensino das matérias em classe.
A sentença, confirmada pelos desembargadores da 10ª Câmara Cível do TJ/RS, ainda identifica que o texto das jornalistas ofendeu a honra do professor ao qualificá-lo, de forma pejorativa, como esquerdista, sem a sua autorização, de modo a extrapolar os limites da liberdade de imprensa.
Fonte:http://www.informacoesemfoco.com/2013/06/revista-veja-e-condenada-por-ofensa.html
Por que estudar História?
Por que estudar História? - Laura de Mello e Souza

Laura de Mello e Souza é professora titular de História Moderna da Universidade de São Paulo. É autora de O Diabo e A Terra de Santa Cruz (1986) e O Sol e a Sombra (2006), entre outros livros. Organizou e foi co-autora do primeiro volume de A História da Vida Privada no Brasil.
Para responder esta pergunta, a primeira frase que me ocorre é a resposta clássica dada pelo grande Marc Bloch a seu neto, quando o menino lhe perguntou para que servia a História e ele disse que, pelo menos, servia para divertir. Após 35 anos de vida profissional efetiva, como pesquisadora durante seis anos e, desde então – 29 anos – também como docente na Universidade de São Paulo, considero que a diversão é essencial, entendida no sentido de prazer pessoal: a melhor coisa do mundo é fazer algo que gostamos de fato, e eu sempre adorei História, sempre foi minha matéria preferida na escola, junto com as línguas em geral, sobretudo italiano e português, e sempre mais a literatura que a gramática.
Mas a História é, tenho certeza disso, uma forma de conhecimento essencial para o entendimento de tudo quanto diz respeito ao que somos, aos homens. Os humanistas do renascimento diziam que tudo o que era humano lhes interessava. A História é a essência de um conhecimento secularizado, toda reflexão sobre o destino humano passa, de uma forma ou de outra, pela História. Sociologia, Antropologia, Psicologia, Política, todas essas disciplinas têm de se reportar à História incessantemente, e com tal intensidade que o historiador francês Paul Veyne afirmou, com boa dose de provocação, que como tudo era História, a História não existia (em Como escrever a História). Quando os homens da primeira Época Moderna começaram a enfrentar para valer a questão de uma história secular, que pudesse reconstruir o passado humano independente da história da criação – dos livros sagrados, sobretudo da Bíblia – eles desenvolveram a erudição e a preocupação com os detalhes, os fatos, os vestígios humanos – as escavações arqueológicas, por exemplo – e criaram as bases dos procedimentos que até hoje norteiam os historiadores. Mesmo que hoje os historiadores sejam descrentes quanto à possibilidade de reconstruir o passado tal como ele foi, qualquer historiador responsável procura compreender o passado do modo mais cuidadoso e acurado possível, prestando atenção aos filtros que se interpõem entre ele, historiador, e o passado. Qualquer historiador digno do nome busca, como aprendi com meu mestre Fernando Novais, compreender, mesmo se por meio de aproximações. Compreender importa muito mais do que arquitetar explicações engenhosas ou espetaculares, e que podem ser datadas, pois cada geração almeja se afirmar com relação às anteriores ancorando-se numa pseudo-originalidade.
Sem querer provocar meus companheiros das outras humanidades, eu diria que a Antropologia nasce a partir da História, e porque os homens dos séculos XVI, XVII e XVIII começaram a perceber que os povos tinham costumes diferentes uns dos outros, e que esses costumes deviam ser entendidos nas suas peculiaridades sem serem julgados aprioristicamente. É justamente a partir desse conhecimento específico que os observadores podem estabelecer relações gerais comparativas e tecer considerações, enveredar por reflexões mais abstratas. Portanto, a História permite lidar com as duas pontas do fio que possibilita a compreensão do que é humano: o particular e o geral.
A História é fundamental para o pleno exercício da cidadania. Se conhecermos nosso passado, remoto e recente, teremos melhores condições de refletir sobre nosso destino coletivo e de tomar decisões. Quando dizemos que tal povo não tem memória – dizemos isso frequentemente de nós mesmos, brasileiros – estamos, a meu ver, querendo dizer que não nos lembramos da nossa história, do que aconteceu, por que aconteceu, e daí escolhermos nossos representantes de modo um tanto irrefletido – na história recente do país, o caso de meu estado e de minha cidade são patéticos - de nos sentirmos livres para demolirmos monumentos significativos, fazermos uma avenida suspensa que atravessa um dos trechos mais eloquentes, em termos históricos, da cidade do Rio de Janeiro, o coração da administração colonial a partir de 1763, o palácio dos vice-reis. Quando olho para a cidade onde nasci, onde vivo e que amo profundamente fico perplexa com a destruição sistemática do passado histórico dela, que foi fundada em 1554 e é dos mais antigos centros urbanos da América: refiro-me a São Paulo. Se administradores e elites econômicas tivessem maior consciência histórica talvez São Paulo pudesse ter um centro antigo como o de cidades mais recentes que ela – Boston, Quebec, até Washington, para falar das cidades grandes, que são mais difíceis de preservar.
Não acho que se toda a humanidade fosse alimentada desde o berço com doses maciças de conhecimento histórico o mundo poderia estar muito melhor do que está. Mas a falta do conhecimento histórico é, a meu ver, uma limitação grave e, no limite, desumanizadora. Acho interessante o fato de muitas pesquisas indicarem que, excluindo os historiadores, obviamente, o segmento profissional mais interessado em História é o dos médicos. Justamente os médicos, que lidam com pessoas doentes, frágeis e amedrontadas diante da falibilidade de seu corpo e da inexorabilidade do destino humano. E que têm que reconstituir a história da vida daquelas pessoas, com base na anamnese, para poder ajudá-las a enfrentar seus percalços. Carlo Ginzburg escreveu um ensaio verdadeiramente genial, sobre as afinidades do conhecimento médico e do conhecimento histórico, ambos assentados num paradigma indiciário (refiro-me ao ensaio “Sinais – raízes de um paradigma indiciário”, que faz parte do livro Mitos – emblemas – sinais). Portanto, volto ao início, à diversão, e acrescento: o conhecimento histórico humaniza no sentido mais amplo, porque ajuda a enxergar os outros homens, a enfrentar a própria condição humana.
Fonte:http://afolhadogragoata.blogspot.com.br/2012/04/por-que-estudar-historia-laura-de-mello_09.html
Laura de Mello e Souza é professora titular de História Moderna da Universidade de São Paulo. É autora de O Diabo e A Terra de Santa Cruz (1986) e O Sol e a Sombra (2006), entre outros livros. Organizou e foi co-autora do primeiro volume de A História da Vida Privada no Brasil.
Para responder esta pergunta, a primeira frase que me ocorre é a resposta clássica dada pelo grande Marc Bloch a seu neto, quando o menino lhe perguntou para que servia a História e ele disse que, pelo menos, servia para divertir. Após 35 anos de vida profissional efetiva, como pesquisadora durante seis anos e, desde então – 29 anos – também como docente na Universidade de São Paulo, considero que a diversão é essencial, entendida no sentido de prazer pessoal: a melhor coisa do mundo é fazer algo que gostamos de fato, e eu sempre adorei História, sempre foi minha matéria preferida na escola, junto com as línguas em geral, sobretudo italiano e português, e sempre mais a literatura que a gramática.
Mas a História é, tenho certeza disso, uma forma de conhecimento essencial para o entendimento de tudo quanto diz respeito ao que somos, aos homens. Os humanistas do renascimento diziam que tudo o que era humano lhes interessava. A História é a essência de um conhecimento secularizado, toda reflexão sobre o destino humano passa, de uma forma ou de outra, pela História. Sociologia, Antropologia, Psicologia, Política, todas essas disciplinas têm de se reportar à História incessantemente, e com tal intensidade que o historiador francês Paul Veyne afirmou, com boa dose de provocação, que como tudo era História, a História não existia (em Como escrever a História). Quando os homens da primeira Época Moderna começaram a enfrentar para valer a questão de uma história secular, que pudesse reconstruir o passado humano independente da história da criação – dos livros sagrados, sobretudo da Bíblia – eles desenvolveram a erudição e a preocupação com os detalhes, os fatos, os vestígios humanos – as escavações arqueológicas, por exemplo – e criaram as bases dos procedimentos que até hoje norteiam os historiadores. Mesmo que hoje os historiadores sejam descrentes quanto à possibilidade de reconstruir o passado tal como ele foi, qualquer historiador responsável procura compreender o passado do modo mais cuidadoso e acurado possível, prestando atenção aos filtros que se interpõem entre ele, historiador, e o passado. Qualquer historiador digno do nome busca, como aprendi com meu mestre Fernando Novais, compreender, mesmo se por meio de aproximações. Compreender importa muito mais do que arquitetar explicações engenhosas ou espetaculares, e que podem ser datadas, pois cada geração almeja se afirmar com relação às anteriores ancorando-se numa pseudo-originalidade.
Sem querer provocar meus companheiros das outras humanidades, eu diria que a Antropologia nasce a partir da História, e porque os homens dos séculos XVI, XVII e XVIII começaram a perceber que os povos tinham costumes diferentes uns dos outros, e que esses costumes deviam ser entendidos nas suas peculiaridades sem serem julgados aprioristicamente. É justamente a partir desse conhecimento específico que os observadores podem estabelecer relações gerais comparativas e tecer considerações, enveredar por reflexões mais abstratas. Portanto, a História permite lidar com as duas pontas do fio que possibilita a compreensão do que é humano: o particular e o geral.
A História é fundamental para o pleno exercício da cidadania. Se conhecermos nosso passado, remoto e recente, teremos melhores condições de refletir sobre nosso destino coletivo e de tomar decisões. Quando dizemos que tal povo não tem memória – dizemos isso frequentemente de nós mesmos, brasileiros – estamos, a meu ver, querendo dizer que não nos lembramos da nossa história, do que aconteceu, por que aconteceu, e daí escolhermos nossos representantes de modo um tanto irrefletido – na história recente do país, o caso de meu estado e de minha cidade são patéticos - de nos sentirmos livres para demolirmos monumentos significativos, fazermos uma avenida suspensa que atravessa um dos trechos mais eloquentes, em termos históricos, da cidade do Rio de Janeiro, o coração da administração colonial a partir de 1763, o palácio dos vice-reis. Quando olho para a cidade onde nasci, onde vivo e que amo profundamente fico perplexa com a destruição sistemática do passado histórico dela, que foi fundada em 1554 e é dos mais antigos centros urbanos da América: refiro-me a São Paulo. Se administradores e elites econômicas tivessem maior consciência histórica talvez São Paulo pudesse ter um centro antigo como o de cidades mais recentes que ela – Boston, Quebec, até Washington, para falar das cidades grandes, que são mais difíceis de preservar.
Não acho que se toda a humanidade fosse alimentada desde o berço com doses maciças de conhecimento histórico o mundo poderia estar muito melhor do que está. Mas a falta do conhecimento histórico é, a meu ver, uma limitação grave e, no limite, desumanizadora. Acho interessante o fato de muitas pesquisas indicarem que, excluindo os historiadores, obviamente, o segmento profissional mais interessado em História é o dos médicos. Justamente os médicos, que lidam com pessoas doentes, frágeis e amedrontadas diante da falibilidade de seu corpo e da inexorabilidade do destino humano. E que têm que reconstituir a história da vida daquelas pessoas, com base na anamnese, para poder ajudá-las a enfrentar seus percalços. Carlo Ginzburg escreveu um ensaio verdadeiramente genial, sobre as afinidades do conhecimento médico e do conhecimento histórico, ambos assentados num paradigma indiciário (refiro-me ao ensaio “Sinais – raízes de um paradigma indiciário”, que faz parte do livro Mitos – emblemas – sinais). Portanto, volto ao início, à diversão, e acrescento: o conhecimento histórico humaniza no sentido mais amplo, porque ajuda a enxergar os outros homens, a enfrentar a própria condição humana.
Fonte:http://afolhadogragoata.blogspot.com.br/2012/04/por-que-estudar-historia-laura-de-mello_09.html
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