Se os fatos que nos precederam pertencem agora ao decreto irrevogável do passado, se estiveram em contextos muitas vezes distintos da situação que agora vivemos, podem esses fatos ensinar algo para os homens de hoje? Para início de reflexão, poderíamos pensar a partir do prisma individual. Nem todas as histórias que nossos pais e avós nos contavam serviam simplesmente para apaziguar nossa sedenta curiosidade por saber como era a vida em tempos pregressos, sem eletricidade, internet ou qualquer uma de nossas modernas mordomias tecnológicas. Muitas histórias nos foram contadas a título de exemplos de vida. Nossos avós e pais nos contavam fatos de suas vidas ou de pessoas próximas para nos darem lições sobre erros e acertos passados.
O objetivo de nossos familiares com essas histórias de suas vidas era simplesmente uma transmissão oral daquilo que chamamos de experiência. Queriam ensinar a nos precavermos dos erros através das experiências de vida que passaram. Naturalmente, existem questões circunstanciais distintas entre o que nossos pais e avós passaram e as coisas que vivemos, mas há também aprendizados morais, princípios perceptíveis através das entrelinhas dos fatos. Sendo a sociedade formada por homens (não, a sociedade e o tão falado “sistema” não são entes abstratos que se movem por força própria: são movidos pelas pessoas que os compõem), não poderiam valer os aprendizados para os homens também enquanto conjunto, enquanto sociedade?
Os contextos culturais e as circunstâncias mudam frequentemente na História humana, entretanto, existem fatores que são comuns a todo ser humano, posto que possuímos a mesma natureza. Os homens que nos precederam foram de carne e osso como nós. Tinham as mesmas faculdades humanas: inteligência, vontade e sensibilidade. Em todas as épocas os homens experimentaram o sofrimento, o júbilo, os prazeres, os vícios e as virtudes…
Antigamente dizia-se com prontidão na língua à temida pergunta “para quê serve a História?”: “para aprender com os erros do passado e não repeti-los no futuro”. O século XX, com o seu auge de extremismos, genocídios, totalitarismos, guerras com maiores proporções de destruição dentre outros problemas, pareceu ter posto em xeque o antigo adágio. Realmente, em um primeiro olhar para a História, especialmente se tivermos tendências pessimistas, nos parecerá que não só o ser humano não aprendeu nada com os erros passados, como também soube refinar e inovar sua malícia e crueldade. Trata-se, entretanto, de um olhar apressado. Enxergando a História dessa forma, estamos apenas atentando para um dos lados da moeda. O joio mistura-se e camufla-se no meio do trigo, mas o trigo ainda está lá.
Ao lado das atrocidades e das ideologias totalitárias encontra-se o progresso técnico, o amadurecimento de algumas noções morais, políticas, sociais, etc, embora não na mesma intensidade e ritmo em todos os lugares, como facilmente podemos depreender. E sempre, em todas as épocas, temos exemplos de pessoas que agiram retamente – muito embora certas correntes históricas nos queiram fazer crer que os homens sempre agem movidos pela economia, pelo sistema ou coisa semelhante. Se o meio – ou contexto histórico – interfere no agir humano, é igualmente certo afirmar que não o determina.
Para os antigos gregos e romanos, a História era muitas vezes vista e relatada como uma sucessão de atos humanos; uma coletânea de vícios e virtudes. E essas ações, virtuosas ou viciosas, eram vistas como principal causa dos acontecimentos históricos. Por mais diversos que sejam os contextos, há em comum o elemento humano: no final das contas, a História realmente é um conjunto de atos humanos, com suas moralidades e responsabilidades.
As sociedades podem aprender com a História, mas sempre em um ritmo lento e incerto, pois estas sociedades são compostas por distintos homens que encaram a moral de formas diferentes, tendo intencionalidades e motivações igualmente distintas uns dos outros. Individualmente, contudo, podemos aprender mais se olharmos a História com reta intenção. Afinal, aprende-se muito mais fácil com a experiência própria, quando se experimenta as vicissitudes da vida na própria pele, mas é também verdade que podemos aprender com a experiência alheia, com os exemplos que nos são contados, com os conselhos que nos dão. Trata-se, contudo, de um ato livre, responsável e consciente: percebermos e aceitarmos o ensinamento que a experiência alheia nos mostra. Isso é certamente mais difícil do que a experiência própria, pela qual aprendemos “na marra”.
Certamente não podemos, pelo simples ensino da História, impedir que os homens repitam os erros do passado (muitas vezes julgando estarem fazendo uma grandiosa novidade…) ou induzi-los a repetir os feitos notáveis, mas podemos, individual e conscientemente, aprender com os exemplos de outras épocas (tendo o discernimento para compreender as eventuais diferenças contextuais e circunstanciais), tal como podemos aprender com a experiência que nos é transmitida por nossos familiares e pessoas próximas. No final das contas, a História é, em um de seus aspectos, um grande conjunto de experiências pessoais. Assim, podemos pensar na máxima ciceroniana da Historia magistra vitae (História mestra da vida), não em um sentido absoluto, mas naqu
Fonte:http://revistavilanova.com/podemos-aprender-algo-com-a-historia/
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