A causa gay, como todo mundo sabe, virou um grande mercado –
comercial e eleitoral. Hoje, qualquer político, empresário ou vendedor de
qualquer coisa tem orgulho gay desde criancinha. Se você quer parecer legal
perante seu grupo ou seu público, defenda o casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Você ganhará imediatamente a aura do libertário, do justiceiro moderno.
Você é do bem. Em nome dessa bondade de resultados, o Brasil acaba de assistir
a um dos atos mais autoritários dos últimos tempos. Se é que o Brasil notou o
fato, em meio aos confetes e serpentinas do proselitismo pansexual.
O Conselho Nacional de Justiça decidiu obrigar os cartórios
brasileiros a celebrar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Tudo
ótimo, viva a liberdade de escolha, que cada um case com quem quiser e se
separe de quem não quiser mais. Só que a bondade do CNJ é ilegal. Trata-se de
um órgão administrativo, sem poder de legislar – e o casamento, como qualquer
direito civil, é uma instituição fundada em lei. O CNJ não tem direito de criar
leis, mas tem Joaquim Barbosa.
Joaquim Barbosa – presidente do Supremo Tribunal Federal e
do Conselho Nacional de Justiça – é o super-herói social. Homem do povo,
representante de minoria, que chegou ao topo do Estado para “dizer as verdades
que as pessoas comuns querem dizer”. O Brasil é assim, uma mistura de novela com
jogo de futebol. Se o sujeito está no papel do mocinho, ou vestindo a camisa do
time certo, ele pode tudo. No grito.
Justiceiro, Joaquim liberou o casamento gay na marra e
correu para o abraço. Viva o herói progressista! Se a decisão de proveta for
mantida, o jeito será rezar para que o CNJ seja sempre bonzinho e não acorde um
dia mal-humorado, com vontade de inventar uma lei que proíba jornalistas de
criticar suas decisões. Se “o que o povo quer” pode ser feito no grito, o que o
povo não quiser também pode. O Brasil já cansou de apanhar do autoritarismo,
mas não aprende.
E lá vai Joaquim, o redentor, fazendo justiça com as
próprias cordas vocais. Numa palestra para estudantes de Direito, declarou que
os partidos políticos brasileiros são “de mentirinha”. Uma declaração
absolutamente irresponsável para a autoridade máxima do Poder Judiciário, que a
plateia progressista aplaude ruidosamente. Se os partidos não cumprem programas
e ideias claras, raciocinam os bonzinhos, pedrada neles. Por que então não dizer
também que o Brasil tem uma Justiça “de mentirinha”? Juízes despreparados,
omissos e corruptos é que não faltam. Quantos políticos criminosos militam
tranquilamente nos partidos “de mentirinha”, porque a Justiça não fez seu
papel?
A democracia representativa é baseada em partidos políticos.
Com todas as suas perversões – e são muitas –, eles garantem seu funcionamento.
E também legitimam a ação de gente séria que cumpre programas e ideias, pois,
se fosse tudo de mentira, um chavista mais esperto já teria mandado embrulhar o
pacote todo para presente, com Joaquim e tudo.
A resolução do CNJ sobre o casamento entre homossexuais é
uma aberração, um atropelo às instituições pelo arrastão politicamente correto.
A defesa da causa gay está ultrapassando a importante conquista de direitos
civis para virar circo, explorado pelos espertos. Um jogador de basquete
americano anuncia que é homossexual, e isso se torna um espetáculo mundial, um
frisson planetário. Como assim? A esta altura? A relação estável entre parceiros
do mesmo sexo já não é aceita na maior parte do Ocidente? Por que, então, a
decisão do jogador é uma bomba?
Simples: a panfletagem pró-gay virou um tiro certo. O
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dá declaração solene até sobre a
opção sexual dos escoteiros. Talvez, um dia, os gays percebam que foram usados
demagogicamente, por um presidente com sustentação política precária, que quer
se safar como herói canastrão das minorias.
Ser gay não é orgulho nem vergonha, não é ideologia nem
espetáculo, não é chique nem brega. Não é revanche. Não é moderno. Não é moda.
É apenas humano.
A luta contra o preconceito precisa ser urgentemente tirada
das mãos dos mercadores da bondade. Eles semeiam, sorridentes, a intolerância e
o autoritarismo. Já para o armário!
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